O mercado já precificava, desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), um corte de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros, que hoje está em 13,75% ao ano. Mas, nas últimas semanas, analistas já avaliam que o corte pode ser de 0,50 p.p.

Porém, especialistas ouvidos pela CNN dizem que é preciso entender que o Banco Central vem conduzindo uma estratégia que não deve ser alterada por indicadores de alta frequência ou notícias de última hora, como o IPCA-15 e a reclassificação de risco Titch Ratings – que elevou a nota Brasil de “BB-” para “BB”.

A próxima reunião do Copom começa na terça-feira (1º) e o resultado será divulgado na quarta-feira (2).

Segundo o economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel de Barros, os núcleos de inflação ainda estão em patamar elevado e incompatível com a meta de inflação perseguida pelo BC, mas, na margem, os dados dão um conforto para o corte de 0,50 p.p, em vez de 0,25 p.p.

“A politização da decisão técnica do Banco Central é algo que pode também estar na mesa, no sentido do Copom cortar 0,25 p.p e ter receio de uma reação negativa da ala política, com danos à institucionalidade. Nesse sentido, o balanço pode acabar direcionando para um corte de 0,50 p.p, com indicação de corte de igual magnitude”, comenta barros.

Para Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe da Órama e professor do Ibmec-RJ, a expectativa é de uma redução de 0,25 p.p.

Segundo ele, até há espaço para um corte maior, porém, os diretores da instituição vêm mencionando sobre a resiliência da inflação de serviços, bem como a distância entre as projeções do mercado e o centro da meta para 2024 e 2025.

“No próprio comunicado, após a última reunião o Copom, sugeriram que a provável distensão monetária irá começar com alguma dose de parcimônia. Assim, a despeito de acreditar que haverá uma dissidência dentro do comitê, com alguns diretores sugerindo quedas de 0,50 p.p., creio que a redução de 0,25 p.p. deve prevalecer.”

Indicadores que pressionam o BC

Barros diz que a difusão e os núcleos de inflação menos pressionados, junto de alguma melhora nas expectativas de inflação, são o copo meio cheio para um corte de 0,50 p.p., enquanto o copo meio vazio contempla uma atividade econômica ainda resiliente, com hiato do PIB pouco aberto e mercado de trabalho aquecido.

O fim do processo de desinflação de alimentos e energia, além da espera pela conclusão do arcabouço fiscal, são pontos importantes do balanço de riscos, acrescenta o economista.

“Depende também do que ocorrer no acordo do Mar Negro para o escoamento de grãos da Ucrânia e nas compensações pela perda de receita dos estados e municípios na versão da reforma tributária no Senado, o que podem deixá-lo mais assimétrico.”

Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren Rena e ex-secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, diz que o cenário para uma queda de 0,50 p.p., combina com os últimos dados do IPCA-15 e de expectativas Focus para ajudar a formar um consenso na direção do início do ciclo de afrouxamento monetário.

“Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. O IPCA esperado pela média do mercado para o ano que vem ainda está bem próximo de 4%. A meta é 3%. Por outro lado, se as expectativas continuarem melhorando, vai se criando espaço para reforçar a tendência de queda.”

Salto pontua que um upgrade de rating também é algo sempre positivo, pois ajuda a consolidar uma percepção de redução dos riscos fiscais. No entanto, não deve gerar maiores impactos para a decisão do Copom de modo isolado.

Reflexos das reformas fiscais

Gabriel de Barros avalia que as aprovações de reformas estruturantes e reavaliações por agências de risco do Brasil, para o atual board do BC, não tem tanta influência, uma vez que tem se pautado por uma atuação estritamente técnica.

“No entanto, para um board mais politizado, sim, pode influenciar e isso é ponto de atenção para 2024 em razão das trocas de diretoria que ocorrerão”.

O economista explica que o mercado precifica, atualmente, o Brasil como um aluno nota 9, e prevê juros em torno de 11,5% para este ano, e 9% para o ano que vem.

“É útil lembrar que a precificação na curva é volátil e para que tenhamos efetivamente esse resultado, oO Brasil precisa ser um aluno aplicado e não buscar atalhos quando o quadro macrofiscal ficar mais desafiador. Para um país que sempre foi aluno nota 5, é um desafio importante, apesar do cenário global estar nos ajudando a passar de ano.”

Espírito Santo comenta não ter dúvidas de que o Copom vai iniciar a queda dos juros nesta semana. “Para ser franco, nem me preocupa se serão 0,25 p.p. ou 0,50 p.p., pois, o mais importante é que a queda será fundamentada num cenário melhor. Nossa projeção é de que o ciclo de reduções da Selic leve a taxa, ano que vem, para 9,5%, talvez até 9%.”

Projeções

Sobre o futuro da taxa básica de juros, Barros diz ver espaço para os dois lados e a direção a ser tomada dependerá, principalmente, do cenário global e da resposta de política econômica quando a atividade fraquejar por aqui, afetando a popularidade do presidente.

“O quadro macroeconômico da China, de baixo crescimento cíclico e gargalos estruturais, é um problema para o Brasil no futuro próximo. Em suma, se o mundo nos ajudar, há espaço para continuarmos pegando carona. Caso contrário, a pressão para sermos mais competentes e destravar crescimento será crescente.”

As expectativas de cautela e de um cenário econômico global mais saudável, também faz parte da opinião de Espírito Santo. “A política monetária não é feita em solavancos, ao sabor de rumores e suposições de que parece estar melhor.”

Ele lembra que o país já passou por isso em outros momentos e deu errado. Para ele, é preciso dados concretos e expectativas favoráveis.

“Repito que a magnitude da queda não é o mais relevante e sim a certeza de que o cenário é condizente com um ciclo de queda, para que os agentes econômicos tenham confiança de que a inflação está convergindo para as metas — permitindo decisões econômicas com maior segurança.”