A candidata à presidência da Argentina Patricia Bullrich, derrotada no primeiro turno, declarou nesta quarta-feira (25) apoio ao ultraliberal Javier Milei no 2º turno, que acontecerá em 19 de novembro.
Bullrich foi a terceira colocada nas eleições, realizadas no domingo (22), e seu apoio era considerado um dos pontos cruciais para o segundo turno por conta da migração de votos – ela angariou cerca de 24% dos votos.
“Este momento nos interpela a não sermos neutros diante do perigo do kirchnerismo do Sergio Massa”, declarou. “Quando a pátria está em perigo, tudo é permitido”.
Indicando um racha já previsto dentro de sua coligação Juntos por el Cambio, Bullrich disse ainda que sua decisão de pedir votos para Milei é pessoal, e não de toda a coligação.
No anúncio, ela estava acompanhada do ex-presidente Mauricio Macri. Há a expectativa que uma parte da coligação, contrária a Milei, possa apoiar Massa.
Após o anúncio de Bullrich, Javier Milei publicou em sua conta no Twitter um desenho de um leão – como ele gosta de se definir – abraçando um pato – em referência ao apelido em espanhol para Patricia.
Ex-ministra de Segurança do ex-presidente Mauricio Macri, ela iniciou a carreira política como militante de esquerda, foi se deslocando para a direita ao longo dos anos, até se tornar ministra de Macri.
Nas primárias realizadas no país em agosto, Bullrich terminou em 2º lugar, atrás de Milei.
Massa e o kirchnerismo
Sergio Massa cumprimenta eleitores após resultado do primeiro das eleições presidenciais argentinas, neste domingo — Foto: Emiliano Lasalvia / AFP
Massa é um peronista, ou seja, ele é da corrente política herdeira do ex-presidente Juan Domingo Perón, que foi presidente da Argentina três vezes no século 20.
Massa teve uma relação ora próxima ora distante com os Kirchner.
Ele foi ministro dos governos de Néstor e Cristina, mas rompeu com os aliados e tentou se estabelecer como um peronista não kirchnerista. Em 2015, ele se lançou como candidato de oposição ao governo de Cristina. Massa acabou perdendo para um outro opositor, Maurício Macri.
A reconciliação com o kirchnerismo veio em 2019. Os peronistas, em um sinal de união, lançaram Alberto Fernández como candidato a presidente, Cristina Kirchner como vice e Sergio Massa como o primeiro nome da lista de deputados federais (no país, não se vota em uma pessoa para deputado federal, mas em uma frente política, e a ordem dos políticos que vão ocupar os cargos é elaborada pelos próprios dirigentes).
Eleito, Massa foi escolhido para a presidência da Câmara dos Deputados. Ele tem reputação de ser um político pragmático e um bom negociador.
Em agosto de 2022, ele assumiu o Ministério da Economia. A inflação estava descontrolada, e o país estava com dificuldade para fazer pagamentos ao FMI. A situação da inflação não melhorou nos últimos meses.
Javier Milei durante discurso a apoiadores após o resultado do primeiro turno das eleições argentinas — Foto: LUIS ROBAYO / AFP
Javier Milei, de 53 anos, é um economista ultraliberal que lançou-se ao cargo de presidente da Argentina pela coligação A Liberdade Avança, que ele mesmo criou.
Ele ficou famoso na Argentina por suas participações em programas televisivos. Durante a pandemia, em protestos contra o confinamento que o governo havia imposto para evitar o contágio, o economista acabou se tornando um político.
Milei afirma que resolveu se tornar político por um chamado de Deus (ele é católico, apesar de ter criticado o Papa Francisco, dizendo que o líder da Igreja tem afinidade com comunistas assassinos).
Em seu discurso anti-establishment ele caracteriza os políticos como uma casta que seria a culpada pelos problemas econômicos argentinos. A pregação deu certo: multidões foram aos comícios dele, e os apoiadores, em sua maioria homens jovens, são eufóricos e participativos.
O economista não teve um desempenho chamativo como deputado, mas continuou a atrair multidões. A Argentina vive dois grandes problemas econômicos:
- A inflação está descontrolada
- Faltam dólares no país
g1